quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A Incrível Arte de me Conhecer Melhor pt. I

Hoje fiquei muito tempo sozinha e sem ter o que fazer durante o dia e, como isso nunca acontece, aproveitei esse tempinho a toa para me dedicar a incrível arte de me conhecer melhor. Traçei planos, parâmetros, analisei e reanalisei meu mapa astrológico (mentira), reli minha agenda desde o começo do ano, fiz variadas listas do que pretendo fazer até o fim do ano e a melhor de todas, fiz planos (o que considero errado) para todo o ano que vem. Desde livros a serem lidos / finalizados até as roupas que preciso comprar, doar, cortar ou queimar, tanto faz, desde que me livre delas.

Sobre achar errado planejar creio que muitos me compreendam sem carecer de explicações. E a melhor explicação é que: nunca dá certo! Ok, planejo começar uma dieta, malhar, aprender a costurar, pintar, escrever, ler todos os dias e o que eu consigo? Frustração, esgotamento mental e físico, engordar e pilhas e mais pilhas de livros no canto da cama. No canto em que os meus pés repousam e os empurram clamando por um pouquinho mais de conforto e espaço todas las noches.

Também escrevi algo sobre simpatia e amizade, mas isso já fiz questão de riscar. Falo sem a menor cerimônia (vish, quem usa essa palavra hoje nesse sentido tão babaca?) / pompa (essa consegue ser pior) / aflição (ok, acho que só estou piorando as coisas) que não preciso de mais amigos ou colegas w h t v r que me tragam mais dores de cabeça que o usual e mais aporrinhação.

Dentro de mim uma senhora de 97 anos repousa solitária em sua cadeira de balanço num asilo com apenas uma placa vermelha com letras apagadas de uma tinta branca onde encontramos as iniciais V LHO. A letra ''E'' como pudemos notar já se foi há muito tempo, assim como as minhas boas piadas e senso de humor (ridículo). A verdade é que ando cada vez mais só e feliz, e não preciso nem quero mudar isso tão cedo. Pelo menos não no ano que vem.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Herberto Helder

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Abandonar velhos hábitos vai se tornando mais e mais complicado depois que a idade avança. Isso não nos é nenhum mistério, ora. E por isso vejo que, hoje, escutar certas músicas é uma questão de necessidade, um pouco de costume e comodismo também, que seja. Notei então que não há algo, muito menos a repetição intensa, que me faça querer guardá-las para tempos outros, tempos em que os meus ouvidos estarão mais desacostumados com as mesmas melodias e o meu apego um tantinho assim mais desapegado, ó. Enquanto isso, caríssimos, prossigo no lago sereno da mesmice.